
Na minha jornada de roqueiro, sempre tive como parceiro, meu irmão Mané Duardo que, conforme narrei no texto Rock in Rio Inesquecível, mantínhamos uma relação de adoração das bandas que cada um curtia e umas das preferidas dele era o Kiss. Nutríamos um “falso” embate entre as bandas rivais que consistia nas minhas prediletas contra as dele, e que na verdade não passava de briga de fachada, no fundo gostávamos de todas e apenas alimentávamos o pseudo confronto.
Bem, Mané possuía o primeiro álbum ao vivo do Kiss – Alive I, tendo bastante orgulho de ser detentor do clássico disco dos mascarados e comumente citado, não sem razão, como o trabalho que tornou o Kiss popular e comercialmente viável, desvelando a partir dali o estrondoso sucesso que veio a se configurar, a ponto de impulsionar e catapultar ao estrelato o quarteto. Tudo começou, de fato, com o citado disco ao vivo.
Pois bem, apesar do histórico e do apego que meu irmão tinha pelo álbum que era duplo, teve uma proposta de compra, formulada por nosso amigo Marcelo Lessa que deixou nosso fã incondicional da banda americana balançado. É bom lembrar que naquela época, 87, 88, já se notava, também, um hábito bastante presente em nossas vidas, consistente em “tomar uma”!
Não me lembro de quanto foi o valor proposto, mas era algo considerável para aquisição de um disco ao vivo e ainda por cima duplo. O local marcado para a entrega do produto cobiçado e valorizado seria o “Bar do Japiacy”, boteco localizado nas proximidades do Colégio Sacramento e “point” de vários jovens, não necessariamente estudantes da prestigiosa unidade de ensino alagoana.
Chegando ao local combinado, percebemos que o comprador não havia aparecido ainda, o que gerou no vendedor a ideia de começar a beber “por conta”, afinal estava tudo certo e a grana iria logo, logo chegar nas mãos do cedente do vinil.
No bar em questão, pude observar, que havia uma figura bastante conhecida no universo rock’n’roll da capital alagoana que participava da “farra” e não satisfeito com o fato de ainda permanecer sóbrio, entornava copos de cerveja com cinza de cigarro e raspa de unha, que segundo lenda urbana, dava um barato muito louco.
Alguns companheiros de copo que nos acompanhavam se atreviam a dizer que o disco era um clássico e que ele não deveria vender ou que estava muito barato e por aí ia a conversa mole. Meu irmão dizia que o disco não era essa coisa toda e que já havia gravado ele todo numa fita cassete (o que a fissura de beber não faz..). Não custa dizer quem era o trem pagador daquela resenha toda.
Depois de algum tempo, chega o famigerado comprador do vinil clássico, se dirige ao vendedor e afaga o objeto de desejo que lembrava uma criança diante de um brinquedo novo e caro, tipo “Forte Apache”, o que gerou no meu irmão uma reação de arrependimento, visível em todos presentes, mas negócio é negócio e a avença fora devidamente cumprida por ambas as partes. Detalhe importante, a grana mal deu para pagar a conta do bar.
Nessa batalha cruel, entre Kiss e o Bar do Japiacy, deu Japiacy. Coisas da juventude... juventude transviada, como diria meu saudoso pai.
GODOY JAPIACY
Kkkkkkkk rapaz tirou do fundo do baú essa história, eu sou testemunha desse episódio.