O ROCK MORREU?
- Fernando Godoy
- há 13 minutos
- 3 min de leitura

Outro dia um amigo de longas datas, comentou elogiosamente sobre algum texto que fiz aqui no blog e emendou: “pena escrever sobre algo que não existe mais...”. Aquele comentário ficou martelando minha mente durante algum tempo e de certa forma me fez refletir sobre o tema. Será mesmo que o rock morreu? Bem, num primeiro momento diria que não...mas ao analisar com mais atenção, fico em dúvida, sobretudo se fizermos um comparativo com o que o rock já foi um dia.
Não se pode negar que os tempos atuais estão esquisitos no que se refere à postura rock’n’roll adotada por vários “representantes” do gênero. Diria até que alguns soam aderentes ao sistema quase que automáticos. Aquela postura outrora adotada de rebeldia e enfrentamento ao Status Quo, deu lugar a interesses pessoais e financeiros, em detrimento daquela atitude de ser contra tudo que violasse os princípios estabelecidos, tais como: sistema, elite dominante, posers etc.

Defender governos e políticas totalmente voltadas a manutenção do sistema atual de coisas é tudo, menos rock’n’roll. Lembro bem que chutar o pau da barraca e apontar as falhas dos governos sempre foi o espírito que permeava a galera. Hoje em dia ser rock’n’roll é pedir pra votar em “A” ou “B”, desvirtuando totalmente o escopo do gênero que tanto influenciaram e mudaram corações e mentes.

Sou de um tempo que chocar a sociedade era o mote, mas atualmente os roqueiros estão domesticados e mais parecem artigos que se encontram em qualquer prateleira de loja de departamentos, adornando sem o menor encanto e apelo. Viraram coisa comum e sem brilho. Cadê a atitude? Tem banda hoje que faz exigências do tipo: água mineral e queijo tofu..
Recentemente, um “expoente” do rock brasileiro se apresentou como antifascista e pasmem... atende pela alcunha sugestiva de “Nasi” e tem uma música que destila ódio e preconceito contra nordestinos... Pois é, o rock resiste a quase tudo, mas a hipocrisia não. Fica a dica de cinema: “Peggy Sue seu passado a espera”. Iria além, espera e… te condena! Com o perdão da licença poética. Pode parecer inocência ou ingenuidade, mas hoje em dia tocar pagode ou sertanejo soa mais subversivo do que fazer parte de uma banda de rock.
E não me venham com essa falácia de que nos dias de hoje o “pacto social” é outro e não cabe mais. O rock sempre foi o intruso, o esquisito na sala, portanto tem que incomodar seja com as letras ou atitude. Sim, mas finalmente o rock morreu? Digo que ainda não, mas sempre que necessário precisa de uma sacolejada para formar caráter.

Alguém pode dizer que existem inúmeras bandas novas surgindo. De fato, é verdade, porém nenhuma consegue romper a cena independente e atingir o mainstream, como era mais comum em décadas passadas. Músicas autorais, nem pensar. Para se ter uma idéia da diferença, nos anos 80 e 90, existiam diversas bandas autorais em Maceió. Quem viveu à época vai lembrar de “São Rock”, “Aviso Prévio”, “Trash”, “Living in the Shit” e tantas outras que dominavam o cenário rock’n’roll da nossa capital.
Sem contar que o rock não toca mais nas rádios e mídias como nos anos 80, por exemplo. Isso me faz ainda acrescentar que a percepção de alcance que tenho hoje do rock é a mesma que tinha naquela época em relação ao Jazz, ou seja, além de tudo que já foi dito ainda temos esse esmaecimento adicional por parte das mídias que parecem tratar o gênero do velho Chuck Berry como coisa de gente véia e mofada...
GODOY ROCK'N ROLL
Comentários