Lembro como se fosse hoje do dia em que me deparei com essa pesadíssima banda e no meu sentir pude logo conhecer pelo único trabalho dos caras que gosto, o disco de estréia, lançado em 1983 – Show no Mercy – considero o máximo de peso que posso suportar em uma trupe de metal.
A capa já impacta bastante, tendo uma alusão ao demônio – corpo de homem e cabeça de bode e a estrela de cinco pontas formada pelas espadas (símbolo ritualístico de satã); sem contar a contracapa que trás os quatro integrantes bem caracterizados, sobretudo a cruz invertida na mão de Jeff Hanneman. Essas coisas na época vendiam que era uma beleza e os caras (principalmente os produtores) sabiam disso e deitavam e rolavam. O único problema relacionado a capa era que tinha que guardar bem escondido o disco para que minha saudosa genitora não o localizasse e cismasse de quebrá-lo em minha cabeça, afinal era bem sinistro o troço...
O álbum inicia de cara com uma pancada – Evil has no boundaries, um soco no estômago logo no começo para o camarada se orientar e firmar caráter; vocal saído dos infernos (um dos pontos altos da banda), solos rápidos e quebradas de ritmos marcam esse estilo de metal denominado trash. Em seguida um pouco de respiro (vá lá..nem tanto), mas simplesmente adoro a música - The Antichrist, como resistir aos vocais de Tom Araya: ...”I am the antichrist...” Considero uma das melhores do disco, destacando-se o alcance do gogó do vocalista, assim como a dupla fenomenal de guitarristas, Jeff Hanneman e Kerry King. Emenda-se com outro clássico: Die by the sword, mais uma vez com um vocal vigoroso, sobretudo no refrão.
O disco inteiro segue nesse patamar de crueza e peso que viraram marca registrada, variações no ritmo da música intercaladas com solos velozes e o mister Dave Lombardo dando o ar da graça nas baquetas e haja braço para manter a pegada.
Mas a música que mais escutei, de que mais gosto e que mais me marcou foi sem sombra de dúvidas a primeira do lado “B” – Black Magic – simplesmente inebriante, inicia numa crescente de baixo e bateria e com o seguinte riff de guitarra: Tan, tan, tan... taranran, ranran, Tan, tan, tan... taranran, ranran... – desculpem a onomatopéia, mas quem conhece lembrará, culminando com o gutural vocal praticamente cuspindo a letra, sobretudo o refrão: “...black magic night...” lembra das quebradas de que tanto falo? Aqui são memoráveis. Música clássica e marcante para mim.
Alguns críticos reclamam da produção precária do disco, mas não era fácil naquela época e em minha opinião deixaram o som mais cru e direto.
Confesso que, depois me decepcionei bastante com a banda após adquirir o disco Reign in Blood – simplesmente impossível de escutar de tão pesado e pouca melodia, com raríssimas exceções como Angel of Death e Raining Blood, que apesar de bem pesadas davam para ouvir. Sei que os fervorosos e fieis seguidores do Slayer adoram esse trabalho, que indiscutivelmente melhorou na produção, mas deixei de acompanhar a banda de mais perto a partir desse disco. Ouço uma ou outra música dos demais álbuns, mas sem aquele impacto do início quando conheci Show no Mercy. Uma coisa é inegável: os shows são espetaculares!
GODOY ARAYA
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